Pesquisa inglesa aponta que redução das horas de sono aumenta a chance de morrer. Para médico do InCor, a privação do sono tem efeitos indesejáveis e pode facilitar a ocorrência de doença coronariana.
Dormir pouco para aproveitar o dia ou fazer todas as atividades do cotidiano pode ser perigoso e trazer problemas mais graves que a simples lentidão de raciocínio e a falta de atenção.
Uma boa noite de sono é importante para manter o coração saudável, e a falta dele pode colaborar para o desenvolvimento de problemas cardíacos. É o que concluiu uma pesquisa recente feita por cientistas de universidades inglesas. Eles mostraram que adultos que dormiam em torno de sete horas por noite e passaram a dormir cinco ou menos tiveram 70% mais chances de morrer, de 11 a 17 anos depois, em relação aos que continuaram dormindo sete horas.
Já o risco de o motivo da morte ser um problema do coração foi o dobro. Isso significa que é importante encontrar tempo para dormir o necessário para evitar problemas a longo prazo. Para Luciano Drager, médico que estuda a relação entre sono e sistema cardiovascular no InCor (Instituto do Coração), há evidências de que a privação do sono promove efeitos indesejáveis ao coração e compromete o endotélio -camada mais interna das artérias.
Isso contribui para diminuir a capacidade de dilatação das artérias, facilitando a ocorrência de pressão alta e doença coronariana. "O sono é um período de relativo repouso para o sistema cardiovascular. Em média, há uma queda da pressão e da freqüência cardíaca de 10% em relação ao período de vigília [quando se está acordado]", diz Drager. Ele destaca que o sono é importante não apenas para estar bem no dia seguinte mas também para a integridade do sistema cardiovascular. Na medida Nem de mais nem de menos.
A pesquisa conclui que dormir em média sete horas por noite é "ótimo para a saúde" em termos de prevenção. Isso porque, além dos efeitos maléficos da privação de sono, o aumento da necessidade de horas dormindo também pode significar problemas. Segundo Franceso Cappuccio, um dos pesquisadores, pessoas que dormem em média sete horas e têm a necessidade de sono aumentada podem estar também com outras doenças, como a depressão.
Por isso, quem vira dorminhoco da noite para o dia deve ficar atento ao aparecimento de sintomas. O consenso entre os médicos, porém, é que cada pessoa tem seu próprio "reloginho", uma necessidade própria de horas de sono. E que mais do que a quantidade vale a qualidade. A neurologista do Instituto do Sono Anna Karla Alves Smith diz que pode ser melhor para a saúde dormir bem durante cinco horas do que mais tempo de forma interrompida.
Ela diz que a média de horas necessárias também varia com a idade. "Uma criança pequena, por exemplo, que está em crescimento e produz hormônios próprios da idade, costuma dormir de oito a dez horas." Já o sono dos idosos costuma ter menor qualidade, com menor período para o sono profundo porque têm maior tendência a acordar mais vezes durante a noite. Isso pode estar associado ao próprio metabolismo dos idosos e ser natural do relógio biológico mas também ao aparecimento de outras doenças que fazem, por exemplo, que ele urine muito durante a noite.
Segundo Anna Karla, eles têm uma tendência a dormir mais cedo, mas devem tomar cuidado porque assim acordarão também muito cedo e, com o tempo, podem ficar com o sono desregulado. Estudo A pesquisa feita na Inglaterra e aceita para publicação na revista "Sleep" analisou os hábitos do sono de 10.308 funcionários públicos com três medições em um período de 17 anos. Ela é uma das recentes evidências sobre a importância do sono para o coração.
Outras mostraram que dormir pouco pode facilitar o ganho de peso e o desenvolvimento do diabetes tipo 2 e da hipertensão. Em fevereiro deste ano, outro estudo que acompanhou 23 mil adultos gregos mostrou que aqueles que dormiam meia hora após o almoço tinham 37% menos chances de morrer por um problema do coração.
Fonte: Folha de São Paulo
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