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Ressincronização cardíaca
O tratamento atual da insuficiência cardíaca está voltado aos mecanismos que mantém e agravam a doença ao longo do tempo. Além de cuidados relacionados aos hábitos de vida, vários medicamentos têm a propriedade de interferir favoravelmente na evolução da doença e aumentar a longevidade de seus portadores. Além dos vários tipos de medicamentos, casos resistentes ao tratamento clínico podem se beneficiar de outros procedimentos: angioplastia coronariana, revascularização miocárdica (cirurgia de ponte de safena), troca ou reparo da válvula mitral ou transplante cardíaco. Entretanto, ainda hoje, esta última modalidade de tratamento beneficia um pequeno número de indivíduos, por sua dependência de doadores compatíveis. Além destas alternativas para uma população específica, a estimulação cardíaca surgiu como tratamento útil na melhora da qualidade de vida e redução da mortalidade de pacientes graves com insuficiência cardíaca. Nos anos noventa, foram inicializados os primeiros estudos de estimulação cardíaca artificial. Para pacientes com disfunção cardíaca grave, estágios de insuficiência cardíaca avançados, refratários ao tratamento medicamentoso convencional, recentemente foi introduzida a terapia de ressincronização cardíaca. A terapia de ressincronização é uma modalidade de estimulação cardíaca artificial que tem o propósito de corrigir alterações da contração do coração, em pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Esta modalidade de tratamento é possível através do implante de um dispositivo cardíaco eletrônico, chamado de ressincronizador cardíaco (um tipo marcapasso artificial). Este pode estar associado ou não ao desfibrilador implantável. Este último equipamento identifica arritmias graves e as trata com um choque elétrico, diminuindo o risco de morte súbita cardíaca. Essa alternativa de tratamento surgiu a partir da observação que, na presença de bloqueio do ramo esquerdo no eletrocardiograma de pacientes com insuficiência cardíaca, poderia haver uma contração cardíaca anormal (dissincronismo). Esta alteração, consequentemente, comprometeria a função de bomba exercida pelo coração. O Doppler tecidual (uma modalidade de ecocardiograma que analisa o coração por ondas de ultrassom) é um método de imagem capaz de documentar a presença do dissincronismo. A ressincronização é um procedimento invasivo, que consiste no implante de um eletrodo na parede lateral do ventrículo esquerdo. A terapia de ressincronização é uma alternativa terapêutica para os pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Os estudos com terapia de ressincronização demonstraram que a mesma proporciona redução significativa da classe funcional (redução dos graus de fadiga e de falta de ar), melhora da qualidade de vida, assim como incremento da distância percorrida em 6 minutos. A seguir, foram publicados estudos clínicos de larga escala, cujos objetivos foram avaliar o risco de morte a as taxas de hospitalização. Os achados desses estudos demonstraram um aumento de sobrevida proporcionado pela terapia de ressincronização. Orientações antes do implante do ressincronizador
É necessário jejum de 6 horas. Medicações de uso habitual não costumam ser suspensas, com exceção dos anticoagulantes, por aumentarem os riscos de sangramentos. O uso de antibióticos preventivos é recomendado. O implante é realizado sob monitorização contínua da pressão arterial, eletrocardiograma e oximetria (avaliação do nível de oxigenação no sangue). É realizada uma anestesia local com sedação ou uma anestesia geral. O gerador do ressincronizador costuma ser implantado na região peitoral (tórax). O cabo-eletrodo, que estimula eletricamente o funcionamento do coração, é introduzido através de uma veia. Após o implante do gerador do ressincronizador, realiza-se um eletrocardiograma e exame de raio-X do tórax. O paciente permanece internado por pelo menos 24 horas após o implante. Indicações
- Classe funcional avançada, ou seja, III ou IV (falta de ar aos mínimos esforços ou até ao repouso). -Disfunção cardíaca severa no ecocardiograma (capacidade de contração severamente reduzida, indicada por uma fração de ejeção inferior a 35%). - Resposta clínica inadequada aos diversos medicamentos, desde que usados de forma e dose adequadas. - Presença de bloqueio de ramo esquerdo em seu eletrocardiograma (complexos QRS maiores que 120 ms) e/ou demonstração de dissincronismo cardíaco no exame de doppler tecidual. É muito comum que os pacientes candidatos à terapia de ressincronização, também sejam benefeciados com o implante de um desfibrilador automático. Este último dispositivo identifica e trata arritmias cardíacas potencialmente fatais, através de choques, evitando o risco de morte súbita. Riscos e complicações
As complicações mais frequentes após o implante de um ressincronizador são: pneumotórax e hemotórax, que são, respectivamente, acúmulo de ar e sangue no espaço pleural (membrana que envolve os pulmões); hematomas; arritmias cardíacas; infecções; perda do comando ou sensibilidade do ressincronizador e deslocamento do cabo-eletrodo (estas duas últimas complicações afetam o funcionamento deste dispositivo). O risco de complicações graves e de morte, relacionadas ao implante do ressincronizador, são relativamente baixos. |
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