Nova pesquisa para identificar e tratar a esquizofrenia precocemente.
A esquizofrenia é uma doença que atinge muitas vezes os jovens adultos que estão na faculdade, momento em que as pessoas estão entrando no auge da vida. Embora os pacientes possam se recuperar da doença, muitos podem sofrer problemas causados por ela ao longo de toda a vida que resultam em desemprego, abandono do lar e reclusão.
Os médicos acreditam que é possível diagnosticar a doença antes - durante a fase prodrômica - e prever quem tem mais chances de desenvolver sintomas psicóticos, eles podem iniciar as intervenções precocemente que podem evitar a progressão da doença ou minimizar o seu impacto na vida dos pacientes. Médicos do Hospital New York-Presbyterian e pesquisadores estão conduzindo esses esforços contra a doença.
A "esquizofrenia é uma doença devastadora que é cara para a sociedade", disse o Dr. Jeffrey A. Lieberman. "Pesquisas têm demonstrado que a intervenção e o tratamento precoces podem evitar os efeitos debilitantes da esquizofrenia por diminuir a progressão da doença, reduzindo a mortalidade e aumentando a recuperação”.
Recuperação após um episódio inicial da esquizofrenia (pesquisa RAISE)
Um renomado especialista no campo da esquizofrenia, o Dr. Lieberman foi selecionado para liderar uma pesquisa de desenvolvimento de uma estratégia otimizadora de intervenção precoce para o tratamento de pessoas que vivem o primeiro episódio dos sintomas psicóticos da esquizofrenia. Chamado de Recuperação Após um Episódio Inicial da Esquizofrenia (RAISE, na sigla em inglês), o estudo visa, principalmente, mudar a forma como a esquizofrenia é tratada para desenvolver e avaliar abordagens inovadoras e coordenadas de intervenção nos estágios iniciais da doença, quando os sintomas podem ser mais sensíveis ao tratamento. Assim, os resultados do projeto poderiam mudar o padrão de cuidado desta doença.
Pesquisadores do RAISE vão começar por testar e refinar as avaliações e intervenções usadas em pacientes que sofreram o primeiro episódio psicótico, em quatro locais de Nova York e Maryland. Na próxima fase do estudo, os participantes serão aleatoriamente escolhidos para receber uma intervenção experimental de uma equipe médica baseada em um programa terapêutico, ou o tratamento administrado por um médico que irá ligar os pacientes aos serviços adequados de reabilitação e apoio da comunidade.
Esquizofrenia e o Cérebro
A esquizofrenia pode causar destruição irreversível de sinapses neuronais que podem ser visualizadas na ressonância magnética como perda de massa cinzenta. "O conjunto de intervenção precoce é para evitar que essa perda ocorra", observou o Dr. Lieberman.
Os pesquisadores estão também tentando identificar biomarcadores para prever os indivíduos com sintomas prodrômicos - como ilusões (ouvir alguém chamar no vento) ao invés de alucinações (ouvir vozes), ou sobrevalorização de idéias incomuns que levam a falta de convicção e delírios – que estão em maior risco de progressão para a psicose. Pessoas na fase prodrômica também podem sofrer de ansiedade e isolamento social.
Apenas 30% dos indivíduos com tais sintomas psicóticos progridem à psicose. Neurologistas e psiquiatras da Universidade de Colúmbia publicaram um estudo na edição da Archives of General Psychiatry identificando uma região específica do hipocampo que é mais ativa em indivíduos de alto risco que desenvolveram esquizofrenia do que naqueles que não. Usando uma nova forma de ressonância magnética de alta resolução, eles descobriram que a região CA1 do hipocampo era anormalmente ativa em pessoas jovens, com sintomas prodrômicos, que passaram a desenvolver esquizofrenia.
Novas maneiras de diagnóstico
No momento não existem testes disponíveis para diagnosticar a esquizofrenia. "Agora, nossa habilidade de prever quem vai continuar a desenvolver a esquizofrenia desde a fase prodrômica é apenas um pouco melhor do que um sorteio", disse o Dr. Scott A. Schobel, autor principal do estudo. "Estes resultados novos podem nos dar um panorama inicial da doença".
O desenvolvimento destes biomarcadores poderia fornecer aos investigadores, não só uma nova ferramenta de diagnóstico, mas também um melhor entendimento da fisiopatologia da psicose - informações que possam levar ao desenvolvimento de melhores tratamentos. Cheryl Corcoran, diretora do Centro de Prevenção e Avaliação (da Clínica Cope, um programa de investigação prodromal da Universidade de Colúmbia e do New York State Psychiatric Institute), observou que a elevada atividade do hipocampo observada no estudo pode sinalizar um papel para o glutamato na fisiologia da doença. Se assim for, as drogas com alvo no glutamato poderiam ser escolhidas como possíveis terapias.
Dra. Corcoran acrescentou que ela e seus colegas da Clínica COPE oferecerem aos pacientes prodrômicos psicoterapia individual, contendo elementos de ambas as terapias cognitivo-comportamental e terapia de apoio, e medicação apenas quando necessário. (Medicamentos antipsicóticos estão associados a efeitos colaterais e são reservados para aqueles com diagnóstico de psicose.) "Oferecemos terapia de apoio individual com foco nos pacientes administrando os recursos de que necessitam", disse ela. "Nossos objetivos são melhorar a função e reduzir o estigma associado com o rótulo de se ter um maior risco para a psicose”.
“A terapia cognitivo-comportamental pode ensinar os pacientes a lidar com o estresse, ajudá-los a aprender a ignorar os pensamentos incomuns, e dar-lhes as habilidades sociais necessárias para interagir com outras pessoas em suas vidas", acrescentou o Dr. Adam Savitz. "É uma abordagem que pode ser aplicada a um grupo amplo de pessoas”.
Dr. Savitz coordena o programa New York-Presbyterian Second Chance Program, que prevê a internação para pessoas com esquizofrenia refratária à terapia padrão. "Se nós podemos aprender a diagnosticar e tratar a esquizofrenia mais cedo, antes que as pessoas progridam para a psicose, poderemos acabar com programas como o que eu coordeno", disse o médico. "Isso seria uma coisa boa".
Tradução revisada de: New research to identify and treat schizophrenia early. New York Presbitarian Hospital.